sábado, 6 de março de 2010

O Cão: Mitos e Símbolos




Há, aproximadamente, quinze mil anos que o cão partilha da vida do homem. Assim, é natural que se posicione num lugar de destaque no imaginário humano. Com efeito, a mente humana procurou sempre representar o invisível e o místico através de objetos ou seres que ia encontrando no seu dia a dia. No caso do cão, a sua aparência e, sobretudo, o seu comportamento foram realçados como símbolos de situações, de poderes ou, até, de divindades.

O guardião dos Infernos
O cão é um guardião, uiva à lua e caça frequentemente de noite. É por esta razão que em diversas sociedades foi associado à morte. Assim, é o guardião dos Infernos, que impede a passagem de vivos e mortos para além da porta que separa ambos os mundos. É Cerberus, o cão negro com três cabeças da mitologia grega ou, Garm, guardião do Niefheim para os Germânicos.

O guia dos mortos e das suas almas
O cão, companheiro de todos os dias, passa a ser, também, companheiro do homem na sua morte. Constitui o símbolo da força que guia as almas na viagem em direção ao reino dos mortos. O mais célebre é Anubis, divindade do antigo Egito, com cabeça de cão negro. Tinha como função supervisionar o embalsamamento do defunto e, seguidamente, conduzi-lo até à sala do julgamento das almas. Por fim, comprovava o resultado na balança das almas.
Encontramos um homólogo de Anubis na cultura Mexicana. Denomina-se Xolotl, deus cão de cor de leão que acompanhava o rei sol aquando da sua viagem subterrânea. Na prática, procedia-se ao sacrifício de um cão de tom amarelo como o sol, da raça Xoloitzcuintli durante o ritual fúnebre. Podia, também, sacrificar-se o próprio cão do defunto para o acompanhar até à portas do reino dos mortos. Na Guatemala, preferiam colocar figuras de cães nos quatro cantos dos túmulos, prática que ainda persiste nos nossos dias.
Nas sociedades orientais, confiavam-se os mortos e moribundos aos cães para que os guiassem até ao paraíso, morada das divindades puras.

O mensageiro entre o Além e os vivos
O cão passa a constituir, igualmente, um meio de comunicação entre o Além e o mundo dos vivos. Neste caso, apresentam-se duas situações distintas: o cão manifesta as suas mensagens ao feiticeiro em transe, como no Zaire nas tribos Bantu ou no Sudão, ou será ele a transportar uma mensagem para os mortos depois de ter sido sacrificado, tal como o fazem os Iroqueses da América do Norte e algumas tribos do Sudão.
Através destes exemplos é fácil compreender que a associação entre o cão e a morte, em conjugação com as suas atividades de caçador noturno, têm favorecido sem dúvida, os rumores de feitiçaria e malefícios em volta deste animal.

A dualidade do simbolismo do cão
A religião muçulmana faz sobressair este lado escuro do cão, tornando-o num ser impuro da criação, tal como o porco. É um "abutre" que afugenta os anjos e anuncia a morte com os seus latidos. Ninguém se deve aproximar dele e quem o matar tornar-se-á igualmente impuro. Pelo contrário, poder-se-ão evitar sortilégios ingerindo carne de cachorro, mas reconhece-se a fidelidade do cão em relação ao dono. Paradoxalmente, o Islão louva o galgo, animal nobre, símbolo do bem e da sorte.A dualidade do simbolismo do cão é observável nos países do Extremo-Oriente. Assim, na China, o cão tanto pode ser o destruidor, com as características de um grande cão peludo de nome "T'ien-k'uan", como o companheiro fiel que acompanha os imortais até ao Paraíso. O filósofo Lao-Tseu liga-o ao efémero referindo um antigo costume chinês durante o qual figuras de cães de palha são queimadas para afastar os maus espíritos. Pelo contrário, para os japoneses, o cão é um animal do bem que protege as crianças e as mães. Finalmente, no Tibete representa o símbolo da sexualidade e da fecundidade. É ele que fornece a chama da vida, o que nos permite abordar outro aspecto do simbolismo do cão: o fogo.

O cão e o fogo
Estranhamente, na maioria dos casos, o cão em si não evoca o fogo, mas é reconhecido como aquele que o transmitiu aos homens. Assume, assim, o papel de Prometeu em certas tribos africanas e ameríndias. Nas ilhas da Oceânia, o cão rosna e dorme perto do fogo, sendo encarado como o senhor deste elemento. Para os Aztecas, é o próprio fogo enquanto que para os Maias representa apenas o protetor do sol durante a noite.
Num registro distinto, o cão podia também simbolizar a guerra e a glória como era o caso entre os Celtas. Este animal era muito elogiado e ser-se-lhe comparado constituía uma honra.

A ambiguidade da sua representação simbólica
Ao longo do tempo, o cão adquiriu um lugar de destaque em termos de representação simbólica que, no entanto, atesta a ambiguidade de sentimentos suscitados nas diversas sociedades humanas. Protetor e guardião para uns, nocivo e demoníaco para outros, a imagem simbólica do cão foi evoluindo para, mais tarde, desaparecer progressivamente nas civilizações modernas.
No entanto, o cão ainda surge em expressões do dia a dia, mas, paradoxalmente, nesse caso o qualificativo "cão" reveste-se quase sempre de um sentido pejorativo, por exemplo como atributo "tempo de cão, doença de cão, feitio de cão, uma vida de cão". No sentido comparativo, exprime desprezo, brutalidade, mau relacionamento: "falar a alguém como fala com o cão, não foi feito para cães , dão-se como cão e gato"! Raras são as expressões onde o cão surge como uma vantagem " ser fiel como um cão..." Tendo em conta o papel cada vez mais importante do cão nas nossas vidas, quem sabe se as próximas civilizações não preferirão dar uma imagem cultural um pouco mais abonatória do nosso companheiro de 4 patas?

Lembrando também das demais representações do cão na arte, ontem e hoje: na heráldica, na numismática, na filatelia, no cinema, na pop art, na arte atual, na fotografia, na televisão e na publicidade.
Fonte: Enciclopédia Royal Canin.

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