terça-feira, 22 de setembro de 2009

Catarata um véu que impede a luz


A catarata é uma doença ocular que afeta bastantes cães e que pode levar à cegueira do animal. Sem cura, a única solução é a cirurgia. Nos casos de sucesso, a visão dos cães melhora acentuadamente.


Os sentidos mais apurados nos cães são o olfato e a audição. A visão vem em terceiro lugar, mas nem por isso deixa de ser um sentido importante. A catarata afeta a visão dos cães, instalando-se como um véu opaco no cristalino ou lente do olho e impedindo assim a passagem de luz. Sem luz ou captação de imagens, o cão não vê. Mas, os cães são animais extremamente adaptáveis e muitas vezes conseguem ultrapassar uma visão reduzida apoiando-se nos outros sentido e no estabelecimento de rotinas.


Nos casos menos graves, a catarata é parcial, não afetando significativamente a visão. Nos casos mais preocupantes, a catarata cobre toda a lente, levando à cegueira. Os cães desenvolvem, na maioria dos casos, cataratas nos dois olhos, mas a catarata pode desenvolver-se apenas num. Apesar de ser facilmente identificável pela cor acizentada que dá ao olho, a catarata é muitas vezes confundida com outras doenças que também alteram a cor do cristalino. A verdade é que ao contrário do que seria esperar, a catarata é mais comuns nos cães juvenis.
Cataratas vs esclerose nuclear:


Tal como os humanos, os cães também desenvolvem cataratas com a idade, sobretudo a partir dos 6 anos. Contudo, na maioria dos casos, os cães idosos desenvolvem esclerose nuclear que é frequentemente confundida com cataratas.


A esclerose nuclear também causa uma alteração de cor, dando ao olho um tom azulado. Isto é causado pelo endurecimento da lente devido à compressão das fibras mais velhas no olho. Contudo, a esclerose nuclear é um processo normal que resulta do envelhecimento do animal e não afecta a visão, pois não é opaca como a catarata, deixando assim passar a luz. Geralmente ocorre nos animais idosos, a partir dos 8 anos.
Cataratas e causas:


O desenvolvimento das cataratas pode ser rápido, instalando-se em algumas semanas, ou mais lento, formando-se durante anos. Na maioria dos casos, as cataratas são hereditárias, daí a importância de conhecer o historial médico dos progenitores do animal que adquirir. Contudo, as cataratas podem ser provocadas por outras doenças, tais como a diabetes. Inflamações, traumas ou exposição a toxinas pode também levar ao aparecimento deste véu.


Todas essas situações vão, na maioria dos casos, desidratar a lente, ou seja alterar o equilíbrio entre a percentagem de água e de proteína que a compõem. A zona opaca que se forma é o resultado da acumulação na lente de proteínas insolúveis.


A catarata afeta os cães de todas as raças, mas parece ser mais comuns em algumas em particular (ver lista no final do artigo). Dependendo da idade do cão, a catarata pode ser classificada como:
Congénita – Presente desde o nascimento, não significa que seja hereditária pois podem resultar de infecções. Manifesta-se geralmente nos dois olhos.
Juvenil – Surge em animais até dois anos de idade. A forma mais comum de cataratas nos cães.
Adulta – Ocorre em animais entre os dois e os seis anos
Senil – Manifesta-se a partir dos seis anos. Apesar de ser comum entre os cães, é muito menos frequente nestes animais do que nos humanos.
Cirurgia:


A partir do momento em que a opacidade da catarata se instala, não é possível tornar o cristalino transparente novamente. A única solução é a cirurgia, o que implica a remoção da lente que pode ou não ser substituída por outra. A principal função da lente é focar, cerca de um terço da focagem das imagens é feita na lente. Um cirurgia bem sucedida não devolve uma visão a 100% aos cães, mas nos casos bem sucedidos, a melhoria da visão é muito significativa. Nos casos onde a lente não é substituída, que ainda constituem a maioria, os donos são também capazes de notar que a visão do cão melhora consideravelmente, sendo a principal diferença, a dificuldade na focagem de objetos próximos.


Apesar destas cirurgias serem praticadas há séculos, permanecem ainda bastante delicadas. Existem diferentes técnicas usadas para a remoção da lente.
Liquefacção da catarata através da técnica de facoemulsificação. Depois, a catarata é drenada por uma pequena incisão.
Remoção da lente e cápsula circundante
Remoção da lente, deixando a cápsula circundante


Apesar da cirurgia ser única solução, nem todos os cães são bons candidatos. Para que a intervenção tenha sucesso é necessário que o cão esteja saudável e tenha o olho, exceptuando a lente, em bom estado, ou seja, sem inflamações. Para verificar se estes requisitos são cumpridos, pode ser necessário fazer testes ao animal. Análises de sangue, exame ao estado físico geral, análise do risco da anestesia são geralmente feitos pelo veterinário. Uma eletrorretinografia(ERG) para verificar o estado da retina e uma gonioscopia para verificar a possibilidade de desenvolvimento de glaucoma podem também ser realizados. Por vezes a gonioscopia é realizada no próprio dia da cirurgia e o electrocardiograma é substituído por uma ultra-sonografia.


Nos casos em que o animal não pode ser operado, gotas e tratamento de possíveis inflamações podem ser administrados de acordo com o diagnóstico do veterinário. Contudo, a catarata permanece.


O papel e expectativas do dono:


As operações envolvem sempre riscos e esta não é exceção. Contudo, os donos podem-se manter otimistas já que a taxa de sucesso deste tipo de cirurgia ronda os 90/95%. Nos restantes casos, podem surgir complicações que façam com que a visão do cão não melhore ou que levem à cegueira.


Geralmente é o pós-operatório o que muitas vezes determina o sucesso da cirurgia. Os cães têm tendência a fazer mais inflamações pós-cirúrgicas do que os humanos. As principais preocupações são o desenvolvimento de glaucomas, a cicatrização dos tecidos (que limita a visão), o deslocamento da retina e inflamações internas.


Os cuidados pós-operatórios são por isso muito importantes. Siga as indicações do veterinário que provavelmente recomenda a administração de medicamentos orais e gotas para os olhos. As gotas podem ter de ser aplicadas durante vários meses. Os cães geralmente têm de usar colares elisabetanos para impedir que cheguem aos olhos com as patas.


No caso de cirurgias bem sucedidas, o dono pode esperar melhorias logo na primeira semana. Contudo é também normal que só na segunda e terceira semana se comece a notar algo significativo. A maioria dos cães não exibe dor depois da cirurgia.
Raças onde a incidência de cataratas é significativa:


Fonte: Base de dados de Problemas Caninos Hereditários da Universidade Canadiana Prince Edward Island
Akita – geralmente associado a cães de olhos pequenos
Antigo Cão de Pastor Inglês (Bobtail) - congénita, juvenil, adulto,
Australian Cattle dog – Blue Heeler Baixote
Basenji - congénita
Beagle – congénita
Bearded Collie – juvenil, adulta
Bedlington Terrier – juvenil
Bichon Frisé – juvenil
Boieiro da Flandres – congénita, juvenil, adulta
Border Collie – adulta
Boston Terrier – juvenil, provocando a cegueira por volta dos 2/3 anos; senil, mas raramente limitando a visão
Caniche – juvenil
Cão de Água Português,
Cavalier King Charles Spaniel - juvenil
Chesapeake Bay retriever – adulta
Chow chow - congénita
Clumber spaniel
Cocker Spaniel Americano – juvenil
Cocker Spaniel Inglês - juvenil
Collie (rough and smooth) - congénita
Curly-coated retriever – adulta
Dálmata
Dogue Alemão – juvenil
Elkhound - juvenil
English Springer Spaniel – congénita, juvenil, adulta
Épagneul Anão Continental - juvenil, adulto,
Épagneul do Tibete
Épagneul Japonês
Fox terrier,
Galgo Afegão – desenvolvimento de cataratas enquanto novo progredindo até à limitação da visão por volta dos 2/3 anos de idade
Galguinho Italiano - juvenil
Golden retriever – cataratas desenvolvem-se a diferentes idades, mas geralmente sem limitar a visão
Gordon setter – juvenile, adulto
Griffon Bruxellois - adulta
Havanês
Irish Setter - juvenil
Irish wolfhound - juvenil, adulto
Jack Russell terrier
Labrador Retriever – cataratas de progressão muito lentas entre 1 e 3 anos, que não afectam a visão
Lhasa apso - adulto
Malamute do Alasca - juvenil
Mastif Inglês
Norrbottenspets,
Nova Scotia Duck Tolling Retriever,
Pastor Alemão – congénita, juvenil
Pastor Australiano – congénita, juvenil, adulta
Pastor Belga – cataratas não progressivas, não limitam a visão
Pastor das Shetland
Pembroke Welsh Corgi - congénita, juvenil,
Pequinês,
Pinscher Miniatura – juvenil
Rottweiler - juvenil, adulto,
Samoiedo - congénita, juvenil, adulto,
São Bernardo - juvenil,
Schnauzer médio - juvenil,
Schnauzer Miniatura – congenital, juvenile, adulta
Scottish Terrier - adulto,
Shar Pei,
Shih Tzu,
Siberian Husky - juvenil,
Staffordshire Bull Terrier – juvenil
Terra Nova,
Terrier do Tibeta – juvenil,
Welsh Springer Spaniel - juvenil,
West Highland White Terrier - congénita, juvenil,
Wheaten terrier,
Whippet - adulto,
Wire-haired Fox Terrier - juvenil,
Yorkshire terrier – juvenil



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