domingo, 10 de julho de 2011

Donos usam creche como 'terapia' para cães pouco sociáveis em SP

Agressividade, ciúme excessivo ou comportamento alterado com estranhos. Estes são apenas alguns traços cada vez mais comuns em pets que ficam muito presos nas casas dos donos e não tem contato com outros cachorros. Para enfrentar o problema, muitos paulistanos estão encontrando nas creches para animais uma forma de "terapia comportamental".
“O Mike era extremamente ciumento, irritadiço, agressivo na rua com outros cachorros. Agora está aprendendo a dividir as atenções. Ele mudou muito desde que entrou na creche”, conta Cynthia Burin Mantovani, de 32 anos, dona de Mike, de 1 ano e meio, e Becca, de 8 meses. Os dois cachorros frequentam a creche Cãominhando, no Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, pelo menos uma vez na semana. E Cynthia está pensando em aumentar a frequência. “Aqui eles brincam, não param um minuto, e isso faz bem. Hoje, com a vida que a gente tem, ninguém tem tempo de ficar brincando muito com o cachorro.”Segundo ela, o comportamento agressivo de Mike melhorou muito porque, na creche, tem que dividir as atenções com outros animais. “Ele precisa de outros cachorros. Só com pessoas, a gente tenta humanizar o animal e acaba influenciando o comportamento dele”, diz.
Marisa Mendonça, de 38 anos e dona de Leo, um cocker spaniel inglês de 2 anos, concorda com Cynthia. “A questão de sair do próprio território é importante. O fato de ele ficar muito no meio dos humanos torna o cachorro muito antissocial com os outros animais”, afirma.
Segundo ela, Leo era muito agressivo até mesmo com seus próprios donos e chegou a morder uma empregada. “Eu chorava porque não queria perder o cachorro. Aí que surgiu a ideia da creche e resolveu todos os problemas. Ele passou a ser mais calmo. Ele mudou 95%, pois 5% é da natureza dele”, diz. Marisa conta que agora pode passear na rua com o cachorro, o que antes era difícil por causa da presença de outros cães. “Ele se esquivava, tinha medo e era agressivo. Agora ele não se importa.”
Falta de tempo
Apesar dos beneficios da convivência com outros cachorros e da educação recebida pelas orientadoras na creche, as duas mulheres consideram que a falta de tempo das duas também motiva a estadia dos pets no local.
Mas Cynthia defende o uso do serviço independentemente disso. “Pra quem não tem tempo é uma excelente opção, mas mesmo se eu tivesse tempo, eu mandaria. Ajuda a colocar um limite neles e os educa”, afirma. “A falta de tempo conta, claro, pois você chega cansada em casa e não quer sair pra brincar com o cachorro. E mesmo assim é diferente do que ele estar na própria creche”, concorda Marisa.
A veterinária responsável da Cãominhando, Vanessa Rodrigues Requejo, de 34 anos, conta que seus clientes se dividem entre a motivação por falta de tempo e a socialização dos cães. “Temos clientes que ficam o dia inteiro trabalhando ou mesmo clientes que ficam em casa, que não trabalham mais, mas querem que os animais tenham contato com outros cãezinhos”, conta. “E o contato humano aqui é o que menos conta, pois isso eles têm em casa com os donos. O mais importante é o contato com os cães e que eles fiquem livres.”
A veterinária Renata Costa, que pretende abrir uma creche na Vila São Francisco, na Zona Oeste de São Paulo, em aproximadamente um mês, vê a falta de tempo das pessoas como grande motivadora do sucesso das creches na cidade. “Eu vejo a dificuldades das pessoas de arrumar gente pra cuidar direito dos cães, que não têm tempo de sair pra passear com eles, para brincar. Aí o cachorro fica sozinho, trancado e estressado. A creche se torna uma opção”, diz.
As duas veterinárias concordam que a socialização dos cães é um dos pontos mais importantes que a creche oferece, inclusive para mudar comportamentos agressivos e antissociais. “Vários [cães] chegam com dono e são agressivos na coleira, latem para os outros cachorros e para as pessoas. O dono solta e só pelo fato dele não estar na guia, muda radicalmente”, diz Vanessa. Ela alerta, porém, que apenas o cachorro que é agressivo por medo, que avança nas pessoas por timidez e falta de segurança é que tem essa mudança. “Outros cães muito agressivos não conseguem nem entrar na creche.”
Cuidados da saúde dos cães
Renata Costa também atenta para um motivo que talvez seja menos usual, mas que não deixa de ser importante para muitos donos de cachorros. “Alguns animais são doentes e precisam de cuidados especiais, de tomar remédio no horário certo. E os donos, por falta de tempo, não conseguem fazer isso."
A opção, muitas vezes, é a creche, como no caso de Wanilda Borges do Val, de 48 anos. Ela é dona do poodle Juninho, que tem problemas de coração, e das vira-latas Maisha, que é paralítica, e Layla. Segundo Wanilda, Maisha exige um cuidado constante por usar fraldas o dia inteiro. “Tem que trocar a fralda sempre, lavar, limpar, e mesmo se eu contratasse uma empregada ela não ficaria com a atenção integralmente em Maisha, pois ela teria outros afazeres”, diz.
Maisha foi resgatada por Wanilda após ter sido atropelada. “Se ela tivesse passado por uma cirurgia até 48 horas depois do acidente, é provável que tivesse se recuperado. Mas como isso não aconteceu, ela ficou sem a sensibilidade nas patas”, conta. Apesar da deficiência, porém, a vira-lata ganhou o apelido de "sapo" por estar sempre pulando e correndo de um lado para o outro. “Ela não para, tem muita energia. E na creche, além de receber atenção, pode brincar e correr à vontade.”
Wanilda diz que, no início, se preocupava com os cachorros na creche. “Eu ficava me perguntando se estavam cuidando bem deles." Depois de quase dois anos usando os serviços das creches para animais, Wanilda não se arrepende. “É excelente. Falam que eu poderia gastar comigo, mas imagina, fico feliz de proporcionar isso pra eles. Recomendo para todo mundo.”
Fonte:  http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/07/donos-usam-creche-como-terapia-para-caes-pouco-sociaveis-em-sp.html

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